terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cronica de um encontro de primos


A ideia germinou, amadureceu e concretizou-se. A família Brito juntou-se em retiro espiritual (e gastronómico) na zona de Melgaço, num aldeamento de montanha apelidado “Branda da Aveleira”, que fica longe de tudo.
Longe da civilização, mas com todos os confortos da mesma, excepto o telemóvel que só funciona a partir de um determinado nível da encosta, na parte superior da aldeia.
Como já conhecia o caminho, fui tranquilamente, apesar de atrasado em relação ao horário que tinha combinado, pois com mulheres raramente se chega a horas. “Agora tenho de ir arranjar o cabelo”, ainda falta ir comprar um bolo”, “não sei o que hei-de levar vestido” e por aí fora!
Levei a minha mãe, para quem não sabe, uma senhora de noventa e dois anos, a caminho dos noventa e três, e comigo arrancou tambem a Sofia no seu automóvel. Aproveitamos para ir a Espanha encher os depósitos dos bólides e ao chegar a Tui toca o telefone. Era o António Castilho a dizer que estava já perto da Aveleira, junto de um coreto e de umas casas que estavam fechadas e sem ninguém por perto. A ligação estava má, eu não tinha a menor ideia de onde ele estaria, tentei que me desse mais coordenadas e a chamada “caiu”. Quando contei aos meus passageiros o que se estava a passar, a Paula lembrou-se que o coreto só podia ser o do Santuário da Senhora da Guia a dois quilómetros da Aveleira. É só descer o caminho e estamos lá. Ainda tentei ligar-lhe mas ele já não tinha rede.
Ao passar pela Porta de Lamas de Mouro, onde tinha de virar à direita, mesmo a seguir ao café, encontro a Fernanda Meira e o filho, às voltas com uma marmita de bolos de bacalhau. Paramos por breves instantes, eles ficaram à espera da Paulinha que devia estar a chegar e continuamos ansiosos por chegar ao destino.



Na Aveleira tínhamos à espera um casal, proprietários de duas das oito casas que alugáramos. Deram-nos as chaves, entretanto vejo o carro do Castilho, fui bater-lhe à porta e logo ali se trocaram os primeiros cumprimentos. Seguimos para o meu alojamento a “Casa do Castanheiro” onde “acampou” a malta que comigo viajara. A sobrinha Sofia, o companheiro (dela) Hugo, o rebento Duarte, a minha irmã Fininha e a matriarca Maria José (Quinhas, para mim).
A casa era espaçosa tinha uma lareira convidativa que logo foi acesa e assim permaneceu até sairmos no dia seguinte, alimentada pelas “achas” de lenha amontoadas no alpendre das traseiras, de onde se desfrutava de umas vistas ímpares.
Quando acabamos de comer já passava das três da tarde. Aos poucos todos iam chegando e iam-se visitando uns aos outros, conhecendo os velhos e gastos caminhos da Branda, apreciando as (poucas) casas recuperadas e as (muitas) casas ainda em ruínas.
A Branda da Aveleira era um refúgio de pastores e rebanhos que esteve totalmente abandonado até que alguns proprietários decidiram recuperar as suas casas para turismo de montanha. Hoje não há rebanhos de ovelhas ou de cabras, mas ainda se podem apreciar manadas de garranos e bovinos em liberdade pelas encostas daqueles montes.

Em breve começou a escurecer, combinamos encontrarmo-nos na casa do Jorge Meira que tinha a sala maior, embora pequena para tanta gente e para tanta comida.
Todos se esmeraram na qualidade, na variedade e na quantidade. Havia comida para três dias, pelo menos, mas nós juntamo-nos para conversar, para conviver e para nos conhecer, pois havia primos de segunda e terceira geração que não se conheciam. Eu não conhecia o filho da Xana, nem as filhas do Ruca, por exemplo. Só por isso já foi bom, mas ainda foi mais delicioso lembrar estórias de outros tempos, recordar pessoas que cruzaram as nossas vidas, ouvir da boca dos próprios as partidas as brincadeiras que nunca esqueceram.
Ver fotografias, reconhecer figurantes, uns em pose, outros desprevenidos, na praia, no campo, em casa, os nossos pais, tios, avós, amigos. Saudade!
A dado momento o Jorge desembrulha um pequeno sino de bronze com um palmo de altura e que pertencera ao nosso avô Abel Brito, para chamar os banhistas que estavam na praia quando o almoço na Pensão Âncora estava pronto a ser servido!
Acabamos a reunião perto das duas da madrugada, alguns vencidos pelo sono, principalmente as crianças. Cá fora o frio apertava, alguém disse que estavam três graus, o meu carro já tinha gelo nos vidros.
Não me apetecia nada ir para a cama, queria que aquela noite não acabasse assim, tão rápido. Em casa abri uma cerveja e fui bebê-la no alpendre, de frente para a montanha, no silêncio da madrugada.


Dormi bem, levantei-me cedo, dei umas voltas pelas redondezas, fui à casa da minha irmã Mimi, que ficara instalada na última casa, no cimo do monte. Para lá chegar “deita-se os bofes pela boca fora”, tão íngreme é o caminho, mas a paisagem é deslumbrante.
Arrumar as tralhas, carregar os carros, concentração ao meio dia junto da recepção para fazer as contas. Tiramos as fotos do conjunto na pequena ponte à entrada da aldeia e arrancamos em direcção a Melgaço, pela estrada de Gave.
Almoçamos no “Retiro do Sossego”, um pequeno restaurante com boa comida, bom ambiente, embora demasiado caro. O Fernando Meira presenteou-nos com um pequeno chocalho (símbolo da família), com o brasão dos Brito gravado, um leão.
99,98% dos presentes preferiam que fosse um dragão azul, apenas 0,02% (da Sofia e do Helder) preferiam uma águia.
Não interessa! O nosso brasão é um leão vermelho, mais nada.

Ficou a vontade de unânime de repetir o encontro de primos, com todos, se possível, com os que quiserem, de certeza. Quebraram-se alguns gelos, estabeleceram-se algumas pontes, criaram-se algumas cumplicidades.
Para já vamo-nos encontrando por aí, trocando e-mails, deixando voar a imaginação até ao próximo encontro.

4 comentários:

António disse...

E aqui fica uma crónica para memória futura...
(escrevemos no mesmo dia, reparaste?)
Mas a primalhada ainda não comentou nada!!!!

Abraço

Brito Ribeiro disse...

Alguns andam a dormir! Obrigado pela visita, mas acho que a tua crônica está mais elaborada que a minha.

Abraço

apm disse...

senti o mesmo...saudade, vontade de estar mais perto, querer conhecer melhor...numa palavra, repetir! beijos apertados *ap

Brito Ribeiro disse...

Obrigado pela visita e pelo comentário. Claro que vamos repetir, não fossemos nós descendentes do Abel da Chocalha!

Abraço