segunda-feira, 7 de abril de 2014

A fome dos invernos longos


Aurora desperta a razão
Nas águas agitadas do mar gélido
Como gigante impondo a vontade
Ao pobre pescador aperta o coração
Por a maresia não fazer sentido
E amarrá-los em terra à mendicidade

Terras a dentro vão em procissão
Casa a casa pedem pão
Arrastam os tamancos pelo caminho
As lajes testemunham a submissão
Homens famintos com o grilhão
De filhos que esperam bucha e carinho

A brisa virou a noroeste
O mar engole a espuma e as mágoas
Retira-se para onde impera
A refrega já não é agreste
Redes, anzóis, velas e masseiras
Vamos ao mar que arribou a primavera

Para trás fica a triste lembrança
A fome e a miséria aplacadas
Com côdeas e caldos magros
O Senhor dos Aflitos lhes dá esperança
A agulha os guiará pelas águas diáfanas
Peixe será ouro nos seus desejos