quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Uma viagem atribulada

Levantei-me mais cedo que o habitual porque tive de ir a Viana do Castelo resolver um problema relacionado com a facturação da EDP. Às nove horas já estava à porta destes serviços e contrariamente à minha expectativa eu era o único “freguês”, sendo atendido de imediato. Ao fim de poucos minutos estava de regresso a Vila Praia de Âncora a tempo de estacionar o Audi e esperar o comboio que me levasse até Vila Nova de Cerveira. É isso, agora faço-me transportar de comboio nas idas para o trabalho.
Tenho compatibilidade de horários, fica bastante mais económico, não há o stress do trânsito e já estou farto dos buracos da EN-13. Também já estou farto da “chulice” dos impostos sobre os combustíveis e, acima de tudo, este é o meu contributo ecológico.
Podem-me dizer que é um gesto simbólico, mas o que é certo é que ao fim do ano são muitos quilos de CO2 que não são lançados na atmosfera. Se houver muita gente a tomar idêntica atitude contribuímos substantivamente para travar o aquecimento global. Por tudo isso vou de comboio e até gosto.
Apanhei o comboio das 9.47 no apeadeiro de Âncora-Praia e arrancamos para norte, até Caminha, com a próxima paragem em V. N. de Cerveira, o meu destino como já referi.
Sentei-me como habitualmente na primeira carruagem, acenei para alguns alunos da ETAP e liguei o MP3, ouvi Manu Chao e depois uns blues não sei de quem. Perto da entrada do pequeno túnel de Seixas ouvi distintamente uma pancada na frente do comboio e algo bateu várias vezes no fundo da carruagem, junto aos nossos pés. Alguma pedra ou peça que se soltou da locomotiva. Sentimos os motores desacelerar e uma longa travagem que fez a automotora parar dentro do túnel.
Cá para mim pensei “já houve merda, mas pelo menos não descarrilamos”. Desliguei a música, o revisor entra na cabine do maquinista, volta a sair de telemóvel na mão e apercebe-se que não tem rede. Volta à cabine e o comboio arranca muito devagar e volta a parar já fora do túnel. Quando o revisor, que dava mostras de grande nervosismo sai para telefonar, diz-nos que o comboio tinha acabado de atropelar uma senhora, na pequena passagem de nível de S. Sebastião.
Em poucos minutos chegou um carro da GNR, o maquinista estava visivelmente em estado de choque, e nós aguardávamos na expectativa as informações que nunca nos deram. “Quem era, foi acidente, terá sido suicídio?”, claro que era impossível saber, porque estávamos parados quase a um quilómetro de distância.
Por fim arrancamos, e o comboio ficou retido na estação de Cerveira para inquérito, seguindo os passageiros para Valença noutra composição que já os aguardava.
Nem sei bem porque é que estou a escrever esta crónica, talvez para aliviar a tensão, a sensação desagradável que me percorre a espinha cada vez que penso naquele barulho mesmo por baixo dos meus pés. Acreditem que é muito desagradável…

Sem comentários: