sexta-feira, 11 de abril de 2008

IPO

Ontem aconteceu-me algo deveras interessante que não resisto a transcrever. A meio da manhã estava muito sossegado no meu trabalho quando apareceu o meu amigo Pedro a convidar-me para ir com ele ao IPO.
Esclareça-se que o IPO que ele referia era Inspecção Periódica Obrigatória e não o Instituto Português de Oncologia. Acho que é completamente idiota deixarem usar a referência IPO para a inspecção automóvel, quando já existe há décadas um organismo público, ligado à área da saúde com a mesma designação. Só em Portugal!
Mas contava-vos eu que o Pedro ia levar o carro à inspecção e queria companhia. Disse-lhe que não podia ir e ele retorquiu:
- Sabes, é a primeira vez, não sei como aquilo é.
- Ó homem, não tem nada que saber. Vais ali a Campos que eles fazem isso em dez minutos.
- O que é que eles pedem?
- Tens de levar os documentos, põe o triângulo e o colete à mão, tens de verificar se as luzes estão todas em condições.
- Eu acho que isso está tudo bem – diz o Pedro – só os limpa vidros é que tem problema.
- Estão avariados?
- Não, eles trabalham, mas um deles não limpa nada.
- Então tens de os mudar, tens de comprar umas escovas novas.
- Já comprei mas… olha vamos tomar café que eu explico-te.
Fomos à pastelaria, tomamos café, falamos de qualquer coisa e eu nunca mais me lembrei dos limpa vidros. Quando saímos o Pedro arrastou-me até ao parque de estacionamento para eu ver as luzes do “chaço”, um Skoda Octávia que estava a fazer quatro anos e está em óptimo estado.
- Eu comprei as escovas no Feira Nova e como não sabia pô-las pedi ao meu irmão, mas ele disse-me que uma delas não servia. Só conseguiu pôr a do lado do condutor.
- Tu não percebes nada disto – disse eu – mas o teu irmão é outra nódoa. Então não vês que esta escova está posta ao contrário. Repara este deflector é colocado na parte de cima, assim.
Desmontei a escova, virei o adaptador, voltei a colocá-la na posição correcta e pedi-lhe:
- Dá-me a outra que eu ponho isso num instante.
- A outra? Eu não a tenho…
- Não tens? Então que lhe fizeste?
- Deitei-a fora, como o meu irmão disse que não servia…
- Ó pá tu és…
- Já sei, já sei eu e o meu irmão somos dois burros!
- Não! Tu e o teu irmão sois três burros, porque tu vales por dois.
- Agora tenho de comprar outra, não?
- Claro, mas podes ir assim que eles não implicam. Desde que trabalhem…
- Vê-me as luzes.
- Ok, mete-te no carro e liga os mínimos.
Eu na frente do carro comandava:
- Agora liga o pisca da esquerda, agora o da direita.
E por aí fora. Passei para a traseira do carro e cantei a mesma música até chegar à luz de nevoeiro, que teimava em não acender.
- Pedro, a luz de nevoeiro não acende.
- Que é isso da luz de nevoeiro?
- A luz de nevoeiro, pôrra!
- Onde é que se liga?
- O carro é teu, tu é que deves saber.
- Ó pá, eu nunca vi isso.
- Pira-te daí, deixa-me ver.
Conferi todos os comandos e rapidamente encontrei o comando da luz traseira de nevoeiro que estava agrupada com os projectores de nevoeiro, no comutador geral das luzes.
- Pedro, é aqui junto com os faróis de nevoeiro.
- Faróis de nevoeiro? Este modelo não tem.
- Tem sim senhor. Anda cá ver.
Acto contínuo mostrei-lhe onde ligavam as luzes referidas e ficou espantado ao ver os faróis de nevoeiro que estavam a ser acesos pela primeira vez ao fim de quatro anos.
- Brito, pelo menos hoje já aprendi alguma coisa.
Já nem tive coragem de lhe dizer nada.

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