quinta-feira, 8 de maio de 2008

Crónicas do filho da puta (4ª parte)

Há filhos da p*** vocacionados para fazer e filhos da p*** vocacionados para não deixar fazer, e estes são os dois tipos universais e eternos do filho da p***.
Há, naturalmente, subtipos e especializações funcionais com funções especiais: modos de fazer, ou de fingir não fazer e deixar fazer; no entanto, quer os dois tipos, quer os vários subtipos de filhos da p***, todos eles são primariamente e acima de tudo filhos da p*** e disso estão todos bem conscientes.
É por isso que nem sempre podemos e devemos delimitar rigidamente estes tipos, dado que eles são flexíveis e se entrecruzam e interpenetram.
Apesar de tudo, sim, apesar de tudo o filho da p*** está relativamente contente consigo. Está preocupado com a vida dos outros e descontente com a vida em geral, mas relativamente contente consigo.
O filho da p*** acha sempre que tirou o melhor partido do mau partido que foi ter nascido, e do péssimo partido que é viver. O filho da p*** consola-se muito com o infortúnio dos outros, com a crise dos outros, com a doença dos outros. Os outros também estão em crise, os outros não passam melhor, os outros não fizeram melhor, os outros também perderam, "lixaram-se", "quilharam-se", diz o filho da p*** exultante.
Nada atrai mais o filho da p***, nada o consola tanto como o relato da doença ou da crise que assola os outros.
Enfim, o filho da p*** só se sente feliz com a infelicidade dos outros. Mas morre de muitas maneiras - geralmente da doença que o envenenou toda a vida e que, como ponto máximo da sua carreira, lhe proporciona um final com muito brio, mas atroz sofrimento. O filho da p*** morre sozinho...



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