sexta-feira, 14 de março de 2008

Litos, o traficante (2ª parte)

O Chico continuaria a ser o seu homem de mão. Guarda-costas e intermediário entre ele e os gajos que iriam vender, que nem tinham necessidade de o conhecer. O Chico era de confiança, se é que se podia confiar em alguém.
Conhecera-o há muito tempo, pouco depois de vir viver para o Porto, era o Chico porteiro de uma discoteca na Foz. Nessa altura era um gajo que metia respeito. Apesar de não ser muito grande, era suficientemente forte para dar conta de qualquer cliente mais recalcitrante.
Depois meteu-se nos copos e foi-se abaixo, perdeu empregos uns atrás dos outros e chegou a um ponto que já ninguém o queria por perto. Uma vez arreou uma porrada num gajo que passou três meses no hospital depois de lhe retirarem um rim esmagado. Como já tinha cadastro, foi “dentro” e reencontrou-se com o Litos em Custoias.
Quando saiu, o Litos chamou-o para o ajudar no negócio, mas só lhe dizia o que lhe convinha, nada de sociedades, nem sequer sabia da oficina de restauro, nem onde ele morava. Quando queria, telefonava ao Chico de uma cabine pública, o seu telemóvel só para receber chamadas, que isto das escutas era caso sério.
Iam ser três gajos a vender e o Chico a tomar conta deles. Cada um tinha de vender vinte pacotes por dia, pelo menos, para dar algum. O mais difícil tinha sido escolhê-los mas tinha de arriscar, nunca se sabe, apesar de já os ter debaixo de olho há muito tempo.

Tinha de ir buscar um pacote, já estava combinado com o tipo que o fornecia. Iriam encontrar-se na estação de serviço da A-28 perto de Viana do Castelo. A troca seria feita nos lavabos com a maior discrição e nunca no mesmo sítio por duas vezes seguidas.
Desta vez tinha encomendado a mais, já a pensar no novo âmbito do negócio, sim negócio, que o Litos abominava os consumidores, apenas via neles uma fonte de rendimentos fácil, embora arriscada, porque quando ressacavam, descontrolavam-se e nunca se sabia o que podia surgir.
Hesitou entre levar o Ax ou o Audi que guardava na garagem, mas preferiu ir no “chaço” que dava menos nas vistas. Dissimulação era a alma deste negócio.
Saiu do Porto pela Circunvalação, percorreu a Via Norte, pouco trânsito àquela hora da tarde e seguiu pela Nacional 13 até Esposende, onde parou para beber um café e verificar algum movimento estranho.
Ninguém o seguia, entrou no Citroen e dirigiu-se à A-28, faltavam poucos quilómetros para a estação de serviço. Quando chegou à área de serviço abasteceu combustível e estacionou no parque entre os outros veículos.

Dirigiu-se à cafetaria, comprou a Bola, olhou naturalmente em volta e não fixou o olhar em coisa nenhuma, mas viu distintamente o seu contacto que parecia entretido com um problema de palavras cruzadas.
Tomou outro café, esperou um pouco e caminhou em direcção aos lavabos. Lá dentro um miúdo lavava as mãos. O Litos urinou e ao seu lado, a dois urinóis de distância o seu contacto fez o mesmo. Trocaram rapidamente dois embrulhos plásticos, o outro saiu de imediato, ele foi lavar as mãos.
O embrulho da droga no bolso direito do blusão parecia que queimava. Saiu e não viu nada de estranho, caminhou devagar para o exterior e sentiu uma picadela nas costas, a vista escureceu e as pernas dobraram-se.
Acordou algemado, no banco traseiro de um automóvel. A vista continuava desfocada e sentia as costas dormentes. Ainda viu o seu contacto, igualmente algemado ser enfiado noutro carro. Um tipo com colete azul da polícia sentou-se ao seu lado, outros dois sentaram-se nos bancos da frente e arrancaram em direcção à auto-estrada.
Já não viu o Chico sair do gabinete da administração da estação de serviço, onde tinha assistido a toda a operação através do circuito de vídeo vigilância na companhia de alguns inspectores da Judiciária.
Fim

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